sexta-feira, 25 de março de 2011

Malabares

Sabem de uma coisa interessante? A incapacidade das pessoas em libertar sua imaginação.

Ontem tivemos no cursinho uma experiência única. Aula de malabares, circo, como acharem melhor.

Creio que todo mundo deveria passar por essa experiência também. A gente consegue perceber muitas coisas ao nosso redor, que normalmente não perceberíamos. Desenvolver habilidades que todos temos dentro de nós e que só faltava um "click" para serem despertadas. Não falo apenas das habilidades motoras, mas as de raciocínio também.

Um exemplo? Podemos perceber o pensamento dialético de Heráclito treinando com os malabares. Quem poderia imaginar? Lá vou eu relacionar filosofia a alguma coisa cotidiana...

A uns poucos segundos entre tentar acertar e deixar as bolinhas caírem no chão, já mudamos o suficiente para aprender a não deixá-las cair na próxima vez.

Ao mesmo tempo, algo metafísico do monismo estático de Parmênides estava ao nosso redor. A própria vida.
Um dia desses, percebi o que meu professor de biologia de Belém sempre tentava nos explicar e, por falta de criticidade filosófica no meu cotidiano, nunca consegui entender toda sua profundamente. A vida é a única coisa imutável que existe. Quando falo em vida, não me refiro a bactérias, fungos, plantinhas ou bichinhos. Não expecíficamente.
Já pensou se você não existisse? Será que o mundo pararia de girar e o sol, de brilhar, se você morresse amanhã? Provavelmente não. A vida é muito mais importante do que eu ou você. Ela simplesmente se auto-regula para nunca deixar de existir, mesmo que seja na forma da mais simples criatura. A partir do momento que começou a existir, tornou-se estático! Inevitavelmente. Isso se já não existisse antes do Big Bang em alguma das outras 11 dimensões do Universo...

Bom, se eu começar a especutar corro o risco de me aproximar dos pensamentos míticos... juízos de valor não são seguros para formar pensamentos científicos!

Outra coisa interessante na aula com os malabares foi perceber o quanto a arte circense é capaz de transformar. Traz a tona um lado infantil, espontâneo e descontraído que escondemos da sociedade para dar lugar a pessoas frias, calculistas e tristes.

Ontem, estavamos muitos felizes com nossas claves (aqueles malabares que parecem pinos de boliche alongados) quando um cara passou por nós dizendo: "Vão trabalhar! Não têm o que fazer..."
Um pouco antes, um garotinho passou por nós e comentou muito empolgado e curioso: "Mãe! Eles estão competindo pra ver quem fica mais tempo enquilibrando os pratos!"

A diferença entre eles é obvia: os adultos desaprenderam a se adimirar com as coisas! Os adultos perderam o quesito básico para se tornarem filósofos - capacidade de se impressionar com o mundo ao redor e ter curiosidade - logo, não encontrarão a finalidade de uma aula de malabares e, muito menos a magia que o circo proporciona a uma criança.
Ainda acho que aquele homem sentiu, bem no seu interior, uma vontade imensa de estar no nosso lugar e não indo quase correndo de volta para seu emprego chato numa consencionária. E aposto que nós poderíamos ter aprendido mais com aquele menino curioso. Talvez como fazer para redescobrir o mundo ao nosso redor a partir dos olhos da uma criança...

Mais uma coisa que percebi, também tem a ver com os pensamentos pré-socráticos. Para quem já viu um malabar chamado diabolo (nada a ver com o Lucifer, coisa ruim e diabinho, é que o nome vem do chinês mesmo), pode notar uma certa harmonia entre os pensamentos de Heráclito e Parmênides. A harmonia é apenas uma ilusão de optica. Enquanto gira velozmente equilibrado em um fio de barbante, o diabolo parece a nós estar parado, imóvel. Parece mágica! Não deixa de ser mágica mesmo, pois usa-se do princípio da ilusão de optica para fazer seu encanto. Além da aperência, o diabolo faz muitas (muitas MESMO) rotações por minutos, sem que nossos olhos consigam acompanhar. Mais uma prova de que não devemos confiar nos nossos sentidos... Enfim, aos nossos olhos está imóvel, mas as manobras que podem ser feitas com ele, mostram a beleza proporcionada pelo movimento!

Bom, nem preciso dizer que eu fiquei bem mais animada depois dessa oficina básica de circo né? Depois do choque diário de ser levada a sair da Matrix (ou na caverna de Platão, tanto faz, a alegoria e os sentimentos despertados são os mesmos) e do cansaço que esse esforço causa, creio que libertar um pouco mais a criança que existe em mim possa ajudar a agilizar esse processo de conhecimento sem deixar muitos traumas pelo meio do caminho.

No mais, desejo apenas que todos possam, um dia, voltar a ser crianças. Nem que seja por uma hora na semana!

FELICIDADES.

Nenhum comentário:

Postar um comentário