terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Aparências

Acabei de perceber uma coisa que estava bem na minha frente, mas nunca tinha percebido a dimensão do causo. Estava eu ainda a pouco lendo mais uma parte de um livro da Martha Medeiros. Uma das crônicas, falava sobre algo que minha professora de física, matemática, política, filosofia, sociologia e grande amiga, a Nazaré, vivia me falando: pessoas que vivem de aparência ou que tem muito dinheiro e nenhum pouco de cultura. São os pobres-pobres e os ricos-pobres.

Depois que li esse texto e lembrando de umas e outras conversas com a Naza em que ela me contava vários exemplos dessas categorias sociais, parei e fiz uma retrospectiva do meu dia. Estou na praia. Salinópolis. Ainda estamos em tempos de férias e os dias estão lindos. Sem querer me gabar do recesso, até por que vim fugida para cá. Fugindo de mim mesma e dos meus pensamentos derrotistas de pós listão fracassado da ufpa.
Levando-se em consideração que aqui é uma cidade litorânea que parece ter sido adaptada especialmente para pessoas com situação financeira “mais estável”, digamos assim, é o lugar perfeito para encontrar os tipos de pessoas acima citado. E o pior, dando show de como ser/parecer “bem de vida”.

Me digam: como alguém pode pensar que é legal alugar motos e quadriciclos e dar para crianças correrem enlouquecidas pela praia? Ouvi dois trabalhadores (vendedores de bugigangas) comentando que uma criança num quadriciclo atropelou um vendedor de empadinhas na praia e, palavras do próprio homem,” foi empada pra tudo que é lado!”

Outra coisa irritante especificamente dessa praia: só tendo muito dinheiro para desperdiçar e muita falta de criatividade para investir podem justificar o tamanho dos aparelhos sonoros que os caras colocam nos seus carros para “curtir” sua musiquinha. Fiquei chocada com um carro hoje, e olha que vejo desses carros modificados desde que me entendo por gente rodando pela praia. Juro pra vocês que a F250 lembrava muito aqueles robôs do filme Transformers! E eu me pergunto, pra que tudo isso? Se era pra chamar a atenção, parabéns! Acho que o som dava pra ser escutado desde a entrada da praia. Ainda prefiro meu singelo mp3.

Mas se for para falar de pessoas que se sentem muito maiores do que são, não preciso nem sair do condomínio. Se tem uma coisa difícil em conviver, mesmo que por poucos dias, com pessoas tão diferentes de nós é quando os outros fazem questão de apagar a linha que separa os nossos direitos dos deles. Bom, existe uma coisa chamada de regras do condomínio. Por que são sempre os visitantes que passam dos limites? Só porque a família emprestou o apartamento ou alugou, acha que pode ficar até tarde (muito tarde!) bebendo na beira da piscina com o som do carro altíssimo enquanto suas crianças (capetinhas mimados fazendo de tudo para chamar atenção dos pais!) se descabelam correndo pelos corredores, gritando e fazendo brincadeiras em que o filho do caseiro sempre sai chorando e eles ficam rindo e caçoando dele. Bullyng não fica só na escola né!

Se tem uma coisa que eu não "engulo" é gente metida a ter nariz empinado. Ontem, eu e minha mãe, estávamos na casa do caseiro daqui do condomínio. A esposa dele, mesmo recém operada e ainda se recuperando das complicações das cirurgias, contou algumas histórias pra gente. Algumas senhoras que mandam limpar as casas delas como se fosse obrigação da esposa do caseiro limpar tudo, cozinhar almoço e jantar para quando a família chegar da praia tudo estar prontinho. O varal que tinha nos fundos dos apartamentos foi retirado porque uma moradora não quer almoçar olhando para os panos de chão estendidos. Ai eu me revolto e digo: Sim! E na casa dela não tem pano de chão? Por acaso, lá em Belém, a empregada que deve ser a escrava Isaura, limpa o chão com a língua?
Agora virou exploração escancarada né? Só porque a pessoa não tá passeando na praia nas férias não significa que ela não tenha o seu valor. Por sinal, em vários casos, é muito mais interessante conversar com essas pessoas mais humildes do que com esses que posam de ricos e, muitas vezes, é tudo emprestado.

Como diz a minha prof Naza: são uns emergentes mesmo! Eu ria. Hoje, me preocupei. Será que posso estar no meio do caminho entre os emergentes e os seres pensantes? Não vou negar que gosto de ouvir meu somzinho na praia também (em menores proporções, mais adequadas). Mas também não fico mais indiferente a certas atitudes grotescamente fúteis. Preciso falar o que penso! Não dá mais para aceitar ver as pessoas pisando em quem não consegue ter palavras para se defender. Ainda mais se o abuso for grande!

Bom, o importante é que eu não quero mesmo ser assim. Nem que um dia tenha muito dinheiro, não preciso jogar na cara de ninguém o que consegui com meu trabalho, por que se vou ter condições de ter uma vida confortável, será mérito meu. Não preciso convencer os outros disso, quando acontecer.

Parabéns para quem conseguiu ter a vida que planejou: confortável e segura! Meus pêsames para aqueles que conseguiram ter a vida que cresceu vendo nas novelas da Globo e limitaram seus horizontes a dinheiro, luxo e outras misérias e simplesmente esqueceu de virar gente!

Para quem pretende refletir sobre quem quer ser; para quem já se decidiu; para quem não sabe o que quer da vida, mas sabe o que não quer...

FELICIDADES!

PS: Escrevi esse texto a uns três dias atrás. Já estou em Belém novamente. É que não tem internet lá onde eu tava né... ai já viu!

Nenhum comentário:

Postar um comentário