sexta-feira, 8 de abril de 2011

Morte


A morte, leva tudo. Menos as lembranças.


"A morte nada mais é que cruzar o mundo, como os amigos fazem com os mares; eles ainda vivem mutuamente. Pois é necessário a presença, para amar e viver no que é onipresente. Neste vidro divino, eles ficam cara a cara; e a conversa deles é livre, e também pura. Este é o conforto da amizade, apesar de lhes ter sido dito que morreriam, ainda assim a amizade e sociedade deles são, de certo modo, sempre presentes, por ser imortal."

{William Penn, Mais Frutos da Solidão}


Realmente, para morrer basta estar vivo! Mas, como aceitar uma "perda" tão grande quando menos se espera? (Por que usei aspas na palavra perda? Lógico, as pessoas morrem, suas memórias não!).


As notícias recentes me fizeram, mais uma vez, me preocupar com o mundo em que vivo.
Ontem percebi em uma palestra, uma realidade que me perturba constatar, então costumo não refletir muito sobre o assunto, apenas ter certos cuidados.

A palestrante comentou que, a muitos anos atrás, sua avó disse-lhe que tinha pena da geração dela, pois as pessoas estariam tão neuróticas que não parariam na rua nem para dar informações.

Depois do que aconteceu ontem, diria que aquela senhora estava sendo otimista.

Nosso futuro que, de certa forma, já era imprevisível, agora está constantemente ameaçado de não existir.

Se antes, tínhamos um certo receio de passar desacompanhados, de noite, por uma rua soturna, hoje tememos não encontrar nossos filhos, irmãos, primos e amigos depois da aula ou mesmo antes dela começar.

Temos medo. E não é por menos. Não temos a certeza de quando nossos dias no plano terrestre irão esgotar e muito menos sabemos sobre o que nos espera depois da morte. Poucos de nós recebem-na de braços abertos, como uma velha amiga. Ainda mais se ela não nos dá tempo de nos despedirmos de todos que amamos. Bate uma revolta. Um desespero. Uma saudade inesgotável.

Nunca irei esquecer de um grande amigo o qual não tive a oportunidade de me despedir. Mais uma vez, a violência afastou pessoas. Talvez fosse mesmo seu destino partir desse mundo aos 18 anos por causa de um celular e 10 reais. Mas, precisava ser assim?

Nesses momentos o conforto vem de várias formas. Os que sofrem com a saudade de um parente ou amigo que se foi tentam sempre se convencer que eles estão melhores que nós, pois não vivem mais nesse mundo cheio de tristeza, sofrimento, angústia e violência. Para os que nesse mundo permanecem, apenas nos resta a resignação, aceitar sem por a "culpa" em Deus ou no destino.

De qualquer forma, ninguém que não passa por situação tão dramática quanto a que aconteceu naquela escola do Rio de Janeiro pode dizer que entende o sofrimento dos que foram brutalmente separados de pessoas amadas. Não eram apenas crianças! Eram filhos. Eram irmãos. Eram primos e sobrinhos. Eram seres humanos que estava em busca de conhecimento para não serem animais criados nos cativeiros do tráfico, das drogas, dos roubo, das prostituições.

Sobre o assassino? Não sou ninguém para condená-lo. Não faria o que ele fez, mas se o condenasse, estaria sendo tão criminosa quanto ele. Se Deus, que é maior, que é o amor em puro conceito, é capaz de perdoar, eu sou alguém que poderia fazer isso também. Digo poderia, mas sou humana. Sinto o sofrimentos das pessoas. Não tenho toda a grandeza de Deus. Talvez um dia eu consiga, não ter a vastidão de amor ao próximo ao ponto de perdoar e aceitar passivamente um crime como esse, mas pelo menos não guardar essa raiva, essa revolta. Afinal, o assassino-suicida também é humano. Com problemas, com uma história, com um passado, com seus traumas, com seus sofrimentos, com seus desequilíbrios, com suas armas, com seus meios de se libertar.


Fique bem claro, que não estou tentando justificar a atitude, muito menos minimizar a gravidade do ato cometido.

Finalizando o texto que já perdeu seu poder de síntese a muito tempo, apenas um conselho que passei a seguir mais depois que perdi algumas pessoas importantes: ame. Não tenham medo ou vergonha de dizer a uma pessoa que a ama e de mostrar o quanto essa pessoa é importante para você. Afinal não sabemos se a veremos no outro dia, ou daqui a cinco minutos.


Do meu querido Gilbertinho, ficaram as lembranças de uma pessoa que espalhou felicidade por onde passou. De minha avó, infelizmente, ficaram por fazer várias coisas, várias conversas não aconteceram, vários festejos não foram compartilhados por vários motivos sendo o principal, a distância e, justamente por isso, assim como meu amigo, minha avó me deixou um sentimento de que eu ainda precisava de mais tempo para compartilhar coisas.

De qualquer forma, mesmo para quem está sofrendo diretamente com esse trágico acontecimento, desejo sempre...

FELICIDADES!

Um comentário:

  1. Os últimos episódios dessa novela real chamada vida são fortes realmente. E quão cruel foi esse assassínio no meu velho Rio de Janeiro.
    Um caso isolado, mais um caso na estatística mundial... Não seria estatisticamente tão importante, mas estamos falando de gente, de vida humana. É preciso se premitir o choque que isso nos causa. Parar. Refletir.
    E todo o sentimento que isso nos causa foi muito bem relatado por você, Larissa. Muito bom saber que você continua movimentando seu espaço tão bem.
    Abraço.
    Luciano Villalba

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